14 maio 2008

Tempestades domésticas


Não há quem me convença da existência de um casal em que o homem e a mulher sejam perfeitamente iguais, até mesmo porque sempre um dos pares é mais alto e outro mais baixo, além dos físicos terem grandes diferenças, às vezes enormes! Acredito que possam ter um pacto de compreensão e convivência tão aguçado que não permita ao casal discordar à-toa, nem ficar gastando dinheiro quebrando dúzias de pratos, mas que brigam os casais brigam. Hoje pela manhã, por exemplo, eis um pomo da discórdia que não estava em nenhum porta seios, mas nas cuecas sujas que involuntariamente atiro em baixo da cama, quanto existe a cesta de roupa suja. Ela, a minha amada, resolve deixar dias ali, diz ela, que para que tome vergonha.
Vergonha eu tenho de ir às tarefas externas sem apoio dessa peça íntima, me sinto solto com passos em falso. Se alguém descobre no balanço do dia? Pois ontem não havia uma única sequer ao ponto de ser utilizada, ela havia chegado no ponto máximo de seu boicote, e me fez abaixar por debaixo do leito, dar-lhe razão. Mas não sem antes brigar fazendo valer minha “superioridade” masculina e a direcionei todas as minhas cargas de palavrões, dos mais brandos aos mais pesados palavrões, de modo que ali deixasse registrasse todo o meu torpor diante do fato. Para a minha felicidade ela não estava presente para ouvir meus trovões, havia ido à padaria, e de sorte que quando regressou deu para lhe perguntar calmamente se havia trazido meu pão integral. Só tive que esperar uma hora enquanto meu apetrecho íntimo secasse atrás da geladeira.
O desgaste da briga foi só meu e com pequeno atraso a justificar; mas o patrão sou eu mesmo. Segui para meu emprego lembrando como é bom ter um lar feliz e harmonioso, onde a voz de um não prevalece sobre outro, onde as crianças também tenham vez e voz e até os recém-nascidos possam chorar, e o choro seja recebido como música. Vão me convencer que não recebi xingamentos no sábado em que fui buscar carne para o almoço, e fiquei de papo com amigos no barzinho da esquina até meio-dia apreciando as loiras geladinhas? A vida de casal é assim; há o dia dele xingar, e há dia dela descontar. Mas que os ouvidos estejam longe, e o perdão mais perto, tudo acabando em beijinhos!
Um casal nunca será cem por cento ou quase igual, a não ser japonês em que a diferença é mínima. Não teria graça, não haveria quem pensando diferente tomasse a iniciativa da surpresa, quem dissesse exclamando ao receber um buquê de flores: “Eu havia esquecido que fazemos aniversário de casados no dia de hoje, mas você lembrou!” ou então que justificasse: “Nosso casamento se renova a cada dia, que não há data marcada para comemorar, ele é festa todos os dias!”. Não há almas gêmeas, existem almas que se entendem e não gemem por pequenos detalhes. Pelo sim ou pelo não, comprei mais meia dúzia de cuecas e já vou ao açougue na sexta-feira, afinal não custa prevenir a felicidade do dia a dia e principalmente do churrasco de sábado!

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(*) Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi – Bahia,

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