13 junho 2008

Ecologia ou morte, já?!

Ao que parece o Planeta, ou pelo menos uma parte dele, decidiu enveredar por uma consciência ecológica sem paralelo no passado de que há memória. Cidadãos anônimos e menos anônimos, dirigentes espirituais, comunitários e políticos afadigam-se e desmultiplicam-se em intenções e atos que deixam antever um futuro mais verde para o terceiro rochedo a contar do sol. Mas neste afã ecológico, nem tudo o que bole é pá de gerador eólico...

O atual Presidente da China Hu Jintao encerrou o Congresso do Partido Comunista Chinês afirmando que "o ambiente é vital para a sobrevivência e desenvolvimento do país", o que vindo do Presidente da nação com maior índice de desenvolvimento do planeta soa que nem ginjas. Mas a China, recorde-se, está neste ciclo de crescimento a inaugurar em média uma central térmica a carvão por semana e cada uma delas produz tanta energia como todas as barragens juntas previstas para os próximos dez anos em Portugal, o que significa balúrdios de toneladas de CO2 lançado diariamente na atmosfera.

Para a economia chinesa, o carvão é só quatro vezes mais importante, como fonte de energia, do que o petróleo e o gás natural somados. Curiosamente o Ocidente, que se revela profundamente preocupado com o poluente crescimento energético do Império do Meio, exporta, ou melhor, despeja convenientemente cerca de 70% do seu lixo electrónico para pequenas empresas chinesas de reciclagem, muitas vezes familiares e expressamente criadas para o efeito, afim de ser reciclado a custos da uva mijona. Acontece, porém, que o caos que reina nestas unidades é tanto que quem vive perto ou trabalha nestas empresas apresenta níveis de contaminação por dioxinas e furanos elevadíssimos, os quais são inclusivamente excretados no leite materno.

Na América Latina, que promete varrer o mundo com o seu ciclone verde, a revolução do biocombustivel ameaça ser um tigre de papel com pés de barro: venha do milho americano ou do álcool brasileiro, as implicações económicas e sociais do boom serão imensas, com o eixo Bush-Lula a entrar em confronto directo com o eixo Chávez-Fidel-Morales, não só mas também numa disputa surda pela hegemonia energética.
Se o milho americano e mexicano for produzido em grande escala para fabricar etanol de milho e a vertente alimentar for deixada de lado, o desnorte e a fome tomarão conta de milhares de famílias mexicanas de parcos rendimentos, para quem a tortilha é a base da sua alimentação. No Brasil, e segundo a opinião de muitos especialistas de renome, a revolução do etanol que se avizinha poderá ameaçar irreversivelmente zonas de biodiversidade como o Pantanal e a Amazónia, com perspectivas consistentes de fome no país se as áreas de cultivo de cana forem ampliadas de tal forma que correspondam à procura.

E que dizer do regime de semi-escravidão a que os trabalhadores dos canaviais ainda hoje estão submetidos? Para cortar a quota diária a que está sujeito, dez toneladas de cana, e receber os 9 euros do seu valor, cada trabalhador percorre a pé através do canavial cerca de 9 quilómetros e desfecha 73 mil golpes de podão em 30 mil flexões de pernas que se pagam em números/vida como os fornecidos pelo Ministério da Agricultura do Brasil: 450 trabalhadores mortos o ano passado no sector sucro-alcooleiro. Pudera!
Mas diante da perspectiva de ser o maior exportador de etanol do planeta quem quer saber de minudências? ". "É difícil criar uma consciência ecológica ampla, sabemos que sim. Mas isto é uma guerra que não podemos perder", diz José Saramago. Mas, e a qualquer preço ?, perguntamos nós.

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