05 junho 2008

O que faz de você, você???

Engraçado, tímido, agressivo, egoísta, inteligente. Um caldeirão de influências forma a sua personalidade. Descubra o que faz com que você seja do jeito que é e veja o que ainda consegue mudar.

A individualidade humana é um mistério: somos todos diferentes uns dos outros, e isso acontece até mesmo com gêmeos idênticas que carregam o mesmo DNA e foram educadaos do mesmo jeito.
A ciência moderna tenta há séculos explicar a intrincada malha que forma o nosso comportamento. Nessa corrida, há filósofos, psicólogos, neurocientistas, geneticistas e até literatos.
Nas últimas décadas, o debate ganhou o nome de nature versus nurture. No primeiro time está quem coloca na natureza a raiz da nossa personalidade. No segundo, quem acha que o ambiente é o grande definidor.
Hoje, essa polêmica deu lugar a uma cooperação, com os dois lados trabalhando juntos para desvendar a individualidade. Dessa união, estão saindo muitas das respostas novas e mais precisas das principais questões sobre o comportamento humano. Conheça algumas delas:

A genética determina o comportamento?

Não.
O nosso DNA possibilita e favorece determinados tipos de comportamento, mas não determina nada. Os genes não restringem a liberdade humana eles a possibilitam, diz Matt Ridley, autor do livro O Que Nos Faz Humanos, em um artigo para a revista New Scientist.
Mas a nossa herança genética pode, sim, influenciar o funcionamento do corpo, que, numa cultura ou em outra, resulta em comportamentos diferentes. Ao nascer, cada ser humano carrega uma composição de 30 mil a 35 mil genes, formações de DNA que ficam ali dentro dos nossos 23 pares de cromossomos. As principais descobertas dos geneticistas do comportamento relacionam os genes à regulação de mecanismos fisiológicos que mudam o comportamento, como impulsividade, vício de determinadas substâncias e memorização.

Os pais influenciam a personalidade dos filhos?

Sim, mas a influência é imprevisível.
Desde os primeiros estudos de Sigmund Freud, e até antes deles, os pais são tidos como os agentes mais importantes na criação de uma pessoa. São os primeiros a conter o que há de animal em nós, nos ensinando a controlar desejos em nome de regras morais, castigos e convenções da civilização. Com essa premissa, Freud foi, ao lado de Darwin, um dos grandes pensadores do século 19 a abalar a idéia de Deus, mostrando que as noções de pecado e culpa são transmitidas pelos pais e podem ser a causa de vários dos nossos problemas.
Conforme interage com os adultos, a criança se molda ao mundo em que nasceu. Se os adultos ao redor forem lobos ou cavalos, passará a vida toda uivando ou relinchando e bebendo água com a língua, como aconteceu como o Selvagem de Aveyron, garoto encontrado na França em 1799 que viveu a infância isolado na floresta e por volta dos 12 anos trotava, farejando e se alimentado de raízes.
Ou então as indianas Kamala e Amala, dos anos 20. Acolhidas por lobos quando recém-nascidas, elas andavam de quatro, tinham horror à luz e passavam a noite uivando. Entre lobos ou humanos, a criança aprende o que pode ou não fazer. Percebe que, ao chorar mais alto, a mamadeira vem mais depressa. Portanto, vale a pena ser manhosa, pelo menos de vez em quando. Quando joga um objeto no chão, é repreendida pela mãe e ganha uma bela bronca. Também começa a diferenciar sentimentos: o que achava ser dor, começa a receber nomes diferentes como fome, ciúme, medo.

As amizades influenciam?

Muito mais do que imaginamos.
Em 1998, a psicóloga americana Judith Rich Harris causou uma revolução nas teorias da personalidade ao afirmar que o convívio com os pais é só um dos fatores que influenciam a personalidade dos filhos e um dos menos importantes. No livro Diga-me com Quem Anda..., ela fala que as relações horizontais dos 6 aos 16 anos da criança com seus pares, o grupo de amigos da escola ou da vizinhança são o grande definidor da personalidade adulta.
O principal exemplo usado pela psicóloga são os filhos de imigrantes. Apesar da língua, da religião e dos costumes que os pais tentam transmitir, a criança os ignora facilmente quando começa a ter contato com amigos do novo país. Aprende o idioma de uma hora para outra e, em poucos anos, se parece muito mais com os amigos que com os pais.
Outro exemplo é uma pesquisa com panelinhas de estudantes americanos por volta dos 12 anos. O psicólogo Thomas Kindermann descobriu que crianças de um mesmo grupo tinham notas e atitudes parecidas na escola. Se fizer parte de um grupo em que o desempenho escolar é importante, a criança se estimula a ter melhores notas. Se não conseguir, é provável que vá para outra panelinha, dos esportistas, por exemplo, que não consideram as notas uma coisa superlegal.

O estilo de educação importa?

Pouco.
Traços de personalidade dependem de diversos fatores e são dificilmente previsíveis. Por isso, estudantes de um colégio militar não se tornam necessariamente adultos metódicos, e os de um colégio liberal não ficam mais criativos.
Também não há comprovação científica de que impor limites rígidos previne que o filho seja um adolescente infrator. Dizer que o estilo de educação importa pouco na personalidade deve fazer psicopedagogos e professores estremecer. Mas a afirmação pelo menos livra os pais de tanta culpa e responsabilidade pelo destino dos filhos.
Notícias de adolescentes de classe média que ateiam fogo a mendigos ou espancam empregadas costumam vir acompanhadas de críticas aos pais. A idéia por trás dessa opinião é que os pais são responsáveis pela personalidade e por todos os atos dos descendentes.
Muitos dos adolescentes que engravidam cedo, se afundam em drogas ou espancam empregadas receberam a mesma educação de jovens que andam na linha às vezes, os próprios irmãos.
Casos assim mostram que seres humanos não são robôs que podem ser programados pelos pais ou por pedagogos.

É possível mudar nosso jeito de ser?

Sim.
Na verdade, mudamos nossa personalidade a toda hora. Agimos de modos diferentes com pessoas de idade, sexo ou posição social diferentes.
Você já deve ter passado pela sensação de ser amigável e inteligente com alguém que o deixa confortável e agir do modo contrário com quem o desafia. Além disso, a nossa personalidade depende do que os outros acham: você pode ser chato para uma pessoa, mas gente boa ou confiável para quem o conhece melhor. O homem tem tantos eus quantos são os indivíduos que o reconhecem, disse em 1890 o psicólogo William James, um dos primeiros a estudar a personalidade.
Mas é claro que há comportamentos e atitudes que são muito difíceis de largar. Somente 10% das pessoas com pontes de safena mudam hábitos alimentares e deixam o sedentarismo. As outras acabam morrendo de ataque cardíaco simplesmente porque não conseguem mudar.
Muitas vezes um pai que bate na mulher e nos filhos promete a si mesmo parar com as agressões, mas não consegue. Talvez os genes favoreçam o comportamento impulsivo e não é nada fácil ir contra a própria composição genética.
Ou então, olhando pelo lado da psicologia, somos tão arraigados à referência dos nossos pais e às experiências da infância que esses traços viram nossa identidade.
De ter consciência de si próprio, um traço bem arraigado à personalidade, atribuir a ele uma causa, vencer derrotismos e apegos, vão anos, se não uma vida toda. Mas talvez o caminho de nos conhecer, mudar o que for possível e nos contentar com o que somos seja o grande desafio da vida.

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