12 julho 2008

Nossos vizinhos colombianos


São tantos problemas e guerras pelo mundo que as vezes nos perdemos diante desse campo minado em que vivemos. Onde você olha está acontecendo algo ruim, uns lutam para conseguir o poder, outros para continuar com ele. Durante esse meio tempo, as pessoas que não tem nada com isso sofrem e pedem Paz.
Todo mundo está acompanhando o caso da franco-colombiana Ingrid Betancourt e se chocando com as condições desumanas nas quais os presos tem que ''sobreviver''.
É estranho pois é uma guerra que acontece do nosso lado, em nossas fronteiras e dizem, até mesmo dentro de nosso território, e mesmo assim, creio que a grande maioria só esteja a par disso por causa dos últimos acontecimentos.
As FARC foram criadas em 64 como aparato militar do Partido Comunista Colombiano. Enquanto originaram-se como um puro movimento de guerrilha, a organização já na década de 80 envolveu-se no tráfico ilícito de entorpecentes o que causou o rompimento do partido. Até agora supõem-se que as FARC tenham em torno de 8 mil membros. Também se sabe que 25% dos membros são menores de 18 anos e geralmente sem educação e baixa renda.
''As conversas entre combatentes e reféns são proibidas, mas com o tempo eles acabam trocando algumas palavras. Você vai conhecendo as histórias trágicas dos guerrilheiros. A maioria entra muito jovem, com 15, 16 anos. Muitos sofreram maus-tratos e abandono. Juntar-se à guerrilha é a única alternativa. Quando tomam essa decisão, devem seguir um rígido regulamento. A combatente que engravida, por exemplo, é obrigada a abortar. Ainda são punidas com tarefas pesadas como passar algumas semanas subindo montanhas para buscar lenha", diz o especialista em relações internacionais Marcelo Rech.
Apesar de Bogotá e Medellín terem conseguido controlar a alta criminalidade na última década, tendo se tornado até modelo de segurança, o resto do país não vive nessa realidade, e sim em um conflito armado que já dura praticamente 40 ANOS. Existe um contraste muito grande na relativa calmaria nos grandes centros, e os conflitos sangrentos no interior entre as FARC e a população por território.
"As Farc cometem ações terroristas contra a população civil para posicionar-se à força.Envenenam aquedutos, instalam minas, matam camponeses que não colaboram e tomam reféns para obter vantagens políticas", afirma o cientista político colombiano Luis Villamarín.
Quando se pensa em eliminar grupos terroristas como esse, o buraco é mais embaixo, não basta só armar o exército até os dentes, mas fazer uma revolução economica e social, distribuir a renda, prover o povo de educação, políticas humanas, etc.
Uma dúvida permanece, pois até que ponto isso é só problema deles ou também se torna problema nosso? As FARC dominam as vendas de cocaína, o que faz do Brasil um dos maiores compradores, e toca também em questões internas sobre o comércio de drogas. Não só por sermos vizinhos, mas tudo nos liga a esse conflito. Somos parecidos tanto nos defeitos quanto nas qualidades e tal situação não está muito longe de acontecer no nosso país. Já pensou nisso?
Abaixo um vídeo do documentário ''O Veneno e O Antídoto: uma visão da violência na Colômbia'', feito por Estevão Ciavatta, mostra uma Colômbia em busca de paz, mesmo quando uma guerra civil está a acontecer dentro de suas casas e suas cidades.



Falando um pouco dos reféns, uma parte da matéria da Galileu que está AQUI e é recomendadíssima:

SAÚDE AMEAÇADA
Os reféns recebem escova e pasta de dentes, sabonetes, desodorantes e roupas a intervalos irregulares. Fazem suas necessidades em latrinas na mata e tomam banho nos rios sob supervisão dos guerrilheiros. Recebem alguns remédios quando necessário, mas o atendimento médico é muito precário. Os doentes são carregados em macas durante os deslocamentos.

SILÊNCIO
Reféns e guerrilheiros são proibidos de conversar, mas os combatentes trocam algumas palavras sobre suas vidas e idéias políticas, como serem contra oligarquias e desejarem chegar ao poder político do país. Sempre em voz baixa. Todas as manhãs os combatentes fazem uma inspeção ao redor do acampamento para verificar se há soldados por perto.

PRATO FEITO
O "cardápio" nos acampamentos geralmente é arroz ou macarrão, acompanhados de lentilha ou feijão, e carne, quando os guerrilheiros caçam um animal selvagem. O radialista Herbín Hoyos, que passou 17 dias em poder das Farc caminhando pela mata para fugir do exército colombiano, comia folhas e raízes encontradas pelo caminho para matar a fome. A única refeição do grupo de 12 pessoas era uma lata de atum diária, dividida entre todos

NATUREZA SELVAGEM
Outra maneira de intimidar os reféns, além de ameaçá-los de morte, é deixar cobras, aranhas e até onças mortas no local onde dormem, para assustá-los com os perigos da selva. e desestimulá-los a tentar escapar. Isso aconteceu com a recém-libertada Clara Rojas e com Ingrid Betancourt, ainda em cativeiro, depois de uma fuga frustrada

CASA IMPROVISADA
Os combatentes dormem em redes ou camas de tábuas em barracas de lona e madeira, protegidos dos mosquitos por telas. Tanto eles quanto os reféns não podem guardar muitos pertences, para facilitar as andanças. Rádios, livros e alguns cosméticos e maquiagem, no caso das guerrilheiras, estão entre os objetos mais comuns.

MAUS-TRATOS

Os reféns podem dormir em "cambuches", barracas cobertas por plástico, ou em redes ao relento. Em alguns casos, descansam no chão, sobre um plástico estendido ou até sem qualquer aparato. Em alguns acampamentos os seqüestrados homens vivem acorrentados a árvores, presos pelo pescoço, pela mão ou pelo pé. Quando um refém tenta fugir, sofre punições que incluem andar descalço, proibição de falar com outros prisioneiros, passar longos períodos amarrado a árvores e ser obrigado a usar a latrina durante a noite no escuro, sem lanterna.

>>>Para ler
"Cartas à Mãe - Direto do Inferno", Ingrid, Melanie e Lorenzo Betancourt. Agir. 2008
"Transtorno de Estresse Pós-Traumático em Vítimas de Seqüestro", Eduardo Ferreira-Santos. Summus. 2007
"Últimas Notícias da Guerra", Jorge Enrique Botero. GEEMPA. 2006

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