31 outubro 2008

Igreja Maradoniana (AFF)


Uma bola de futebol com uma coroa de Cristo e algumas gotas de "sangue", uma árvore de Natal com fotos do ídolo penduradas como "estrela", um terço com uma chuteira no lugar do crucifixo, o nome "Diego" em substituição de "Amém", uma infinidade de objetos e costumes seguidos com devoção por centenas de fiéis da chamada Igreja Maradoniana. Para esta legião de fanáticos existe uma única certeza sobre a face da Terra: Diego Armando Maradona é o Deus Supremo do futebol.
É dia de Natal. Um Natal que se vive como nenhum outro nesses 10 anos de Igreja Maradoniana. Pela primeira vez, Maradona está bem de saúde e volta à seleção argentina, agora como técnico. Nesta quinta-feira, o ídolo completou 48 anos.
"Para os argentinos, o futebol é vivido como uma religião. E como cada religião tem o seu Deus, o Deus do futebol é Diego. É lógica pura", definiu Alejandro Verón, um dos três fundadores da Igreja.
Cerca de 400 pessoas passaram a noite de véspera do Natal Maradoniano reunidas entre orações, demonstrações de fé e festejos numa pizzaria de Buenos Aires. Começou o ano 48 D.D. (Depois de Diego) que coincide com uma nova fase tanto na vida de Maradona quanto destes fanáticos torcedores que irão ver "Deus" tentar reeditar a última conquista mundial argentina de 1986 (Copa do México).
O público, entre brindes e ceia, explode em cantigas. A mais repetida é a preferida de Diego Maradona: "Voltaremos, voltaremos. Voltaremos outra vez. Voltaremos a ser campeões com em 86".
De repente, a procissão irrompe o salão. Apóstolos com túnicas brancas carregam os símbolos representativos daquele considerado na Argentina o maior jogador de futebol de todos os tempos. No centro do cortejo, um presépio apócrifo em forma de igreja com uma réplica em miniatura da estátua de homenagem a Maradona na cidade argentina de Mar del Plata. São 10 os apóstolos. O décimo primeiro seria Maradona para completar o time. Não há décimo segundo.
"Não existe Judas nesta religião do futebol. Nem tudo tem paralelo com o catolicismo. As coisas simplesmente surgem. Isto é o folclore do futebol", conta Verón.
O ritmo do desfile eclesiástico é marcado com uma oração liderada pelos fundadores da "Igreja Maradoniana, a mão de Deus", em alusão ao famoso gol contra os ingleses no Mundial de 86. "Em nome de Dona Totaaaaaaa? de Dom Diegoooo? e fruto desse amoooor", pronunciam em tom de alabança. "Diegooooooo?Diegoooo", ouve-se em tom de amém.
Os olhares são de admiração e de respeito. Não há espaços para brincadeiras.
"Este é um movimento num tom muito sério por mais que alguns queiram definir como uma paródia. Isto nasceu verdadeiramente por amor a um ídolo num momento em que Maradona não estava bem. Em países como a Argentina, o futebol é um fenômeno inexplicável. É sanguíneo. Aqui não se permite nem uma derrota porque o povo fica inabilitado para ser feliz por, pelo menos, uma semana", interpreta o instrutor nacional e diretor técnico de futebol, José Caldeira, autor do livro "Igreja Maradoniana, a mão de Deus", que define a Igreja como um movimento único no mundo que transformou um jogador de futebol numa religião.





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