05 abril 2008

Homem Transsexual Engravida


Thomas Beatie é o homem transsexual norte-americano que mais tem sido manchete nos últimos tempos. Ao contrário do que sugere o sensacionalismo de alguns jornais, não é, por várias décadas, o primeiro caso de gravidez num homem transsexual, mas é, sem dúvida, o mais mediático – provavelmente devido à cobertura da The Advocate.
Beatie mudou de sexo e nome legal há anos, passando antes pela terapia hormonal e mastectomia, que lhe deram um corpo masculino, à excepção da genitália – muitos homens transsexuais, dada a imaturidade das técnicas cirúrgicas actuais para a construção do neofalo, escolhem não a fazer, de modo a preservar a funcionalidade e sensibilidade, e evitar complicações operatórias. Casou-se com Nancy, e vivem ambos no estado do Oregon. O desejo do casal de ter um filho foi crescendo, e, devido à endometriose que a deixou incapaz de engravidar, decidiram que Thomas, ainda com útero e ovários, levaria a cabo a gravidez.
Nos homens transsexuais, e apesar do efeito da terapia hormonal ser mais profundo do que o das mulheres transsexuais, masculinizando rapidamente a aparência, a testosterona não significa o fim da fertilidade. Interrompendo-se a terapia, o período menstrual volta, e é possível engravidar-se. Nas mulheres transsexuais, a terapia hormonal leva à azoospermia definitiva em 6 a 12 meses de toma contínua. Os casos de parentalidade de pessoas transsexuais pós-transição (gravidez, preservação de óvulos, embriões ou tecido ovárico, nos homens, e esperma, nas mulheres), não são só teóricos, mas uma realidade que já acontece em todo o mundo, como na vizinha Espanha (onde a legislação prevê explicitamente a coparentalidade biológica / legal dos casais lésbicos com um membro transsexual).
Por cá, e porque dá origem à homoparentalidade biológica – duas pessoas do mesmo sexo legal são pais ou mães biológicos da criança – e porque Portugal ainda não reconhece o direito aos casais cissexuais do mesmo sexo de adoptarem, tenta-se impedir a situação, através da jurisprudência, que inconstitucionalmente exige a esterilidade irreversível, para que o juiz conceda o pedido de mudança de sexo legal.
Thomas interrompeu a terapia hormonal, contactou um doador anónimo, e engravidou uma primeira vez – mas os três zigotos alojaram-se fora do útero, dando origem a uma gravidez ectópica, que teve de ser interrompida, sob risco de vida. A segunda tentativa foi bem-sucedida, e a gestação vai no quinto mês . Apesar da interrupção da terapia garantir a normalidade do desenvolvimento fetal, foi difícil arranjar um médico que acompanhasse a situação – nove recusaram, por motivos religiosos. A maior parte da família da esposa não sabia da transsexualidade de Thomas, que se tornou evidente com a gravidez. Apesar de alguns familiares e amigos do casal desaprovarem da situação, bem como da exploração mediática, ambos estão felizes, e esperam com tranquilidade o nascimento da filha, em Julho.
À
Advocate, Thomas disse que “Ter um filho biológico não é um desejo masculino ou feminino, é um desejo humano”. Novamente ao contrário do noticiado (e felizmente), muitos amigos, familiares, vizinhos e colegas de Tom e Nancy apoiam-nos, e vêm a gravidez como qualquer outra – não só já estão muitos cidadãos à frente do estado, em questões de respeito das pessoas transsexuais.


Entrevista na Oprah em inglês:

Parte 1



Parte 2



Parte 3



Parte 4



Parte 5

Um comentário:

  1. Olá,
    Obrigada por reproduzirem o post, mas um link era simpático - cá fica: http://fishspeaker.blogspot.com/2008/03/homem-transsexual-engravida.html

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